João Bosco Silva
Consultor Sênior e Sócio, Cambridge Family Enterprise Group Brasil
Os ânimos estão exaltados neste início de ano com um governo sob nova direção, um grande volume de notícias falsas circulando e o cenário internacional ainda impactado pela guerra. Diante disso, é natural que o pessimismo recaia sobre nós.
Mas nós, brasileiros, já vivemos e superamos inúmeras crises e formamos ao longo dos anos empresários com habilidade e competência para superá-las. Neste artigo quero compartilhar os ensinamentos e metodologias utilizadas por diversas empresas de sucesso.
Não tenho dúvidas de que são os empresários da iniciativa privada que movem a economia deste país. A economia brasileira na essência é liderada por empresas familiares, que são responsáveis por 70% do PIB e 90% dos empregos gerados no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). O governo federal tem 4% do seu orçamento destinado a investimentos, o que não é nada comparado ao percentual da iniciativa privada, que é quem faz este país crescer.
Ao longo de mais de 30 anos atuando no universo das empresas familiares, a Cambridge Family Enterprise Group aprendeu com estes empresários os pilares que norteiam uma trajetória de sucesso na iniciativa privada. Compartilho a seguir alguns desses princípios:
1- Acredite no seu negócio
Os empresários de sucesso, que conseguem fazer seus empreendimentos crescerem de forma consistente, acreditam no seu negócio e não se deixam abater por crises decorrentes de mudanças políticas. Uma história interessante ocorreu com Amador Aguiar, controlador do Bradesco, que, em meio a uma das inúmeras crises que o Brasil enfrentou, mantinha sua empresa em crescimento constante.
Uma repórter foi entrevistá-lo e perguntou: “Dr. Amador, qual é o seu segredo? Os jornais estão anunciando toda esta crise, e o Bradesco continua crescendo e adquirindo bancos”. Amador, em sua simplicidade, respondeu: “Minha filha, eu não acredito nos jornais, acredito no meu negócio. Nas crises, continuo buscando oportunidades”.
Esta é uma característica das empresas excelentes: analisar potenciais crises buscando oportunidades.
2- Inspire-se nas empresas de excelência
Dê uma olhada em volta e veja o que as empresas reconhecidas pela excelência na gestão estão fazendo. Andy Grove, ex-CEO da Intel, descreveu o que acontece com as companhias em períodos de crise: “As empresas ruins são destruídas pela crise. Boas empresas sobrevivem. Empresas excelentes se aprimoram com as crises”.
Um estudo realizado nos EUA mostrou que 50% das empresas que constam da lista Fortune 500 foram fundadas durante um mercado em baixa ou em recessão. Vejam só: metade delas! Alguns exemplos:
– Revista Fortune, fundada 90 dias após a queda do mercado em 1929;
– FedEx, fundada na crise do petróleo de 1973;
– UPS, crise de 1907;
– Walt Disney Company enfrentou a crise de 1929 com 11 meses de funcionamento;
– Hewlett Packard, na grande depressão de 1935;
– Charles Schwab, quebra do mercado de 1974-1975;
– Standard Oil (Rockefeller), fundada em 1865 no último ano da guerra civil americana;
– Coors, durante a depressão de 1873;
– Revlon, na grande depressão de 1932.
A lista das empresas que nasceram durante uma crise e/ou as aproveitaram para crescer é imensa. Deixando as ideologias e paixões políticas de lado, como empresários e gestores devemos analisar realisticamente as circunstâncias para entender como direcionar os negócios e aproveitar as oportunidades.
3- Analise com pragmatismo os possíveis cenários
A aprovação da PEC ampliando o teto de gastos provavelmente vai gerar inflação, impactando os custos da sua empresa. Faça uma análise deste efeito. Quanto seus custos vão subir? Vou conseguir repassar nos preços? Tenho de tomar alguma iniciativa para conter as consequências desse aumento?
Com a provável subida da inflação, nosso Banco Central independente deve subir os juros, o que vai impactar os custos de capital e das dívidas. Outra possível repercussão pode ser a desvalorização da nossa moeda, o que favorece empresas exportadoras.
É bem provável que os primeiros meses do ano sejam de ajustes do novo governo em definir os caminhos da economia. Neste período, vale a famosa frase do samba “Argumento”, de Paulinho da Viola: “Faça como um velho marinheiro que durante o nevoeiro leva o barco devagar”. No início, penso que o foco deve estar na gestão do fluxo de caixa livre. Nada como uma boa geração de caixa para enfrentar uma crise. Esse fluxo mostra quão saudável está sua empresa em produzir caixa positivo das operações por meio da gestão operacional, de estoques e de investimentos. Adie investimentos e projetos que não são críticos neste momento e foque na gestão do caixa.
Estas são iniciativas que muitos dos nossos clientes estão adotando. Não tenho a menor dúvida de que nossas empresas vão continuar crescendo e investindo. Afinal, os empresários brasileiros sabem vencer crises, acreditam em seus negócios e, principalmente, sabem aproveitar as oportunidades.
Quero dedicar este artigo aos empresários brasileiros. Para mim, eles são os verdadeiros heróis deste país, fazendo a economia crescer e melhorando as condições sociais da população, criando mais empregos e oportunidades. São eles também que, com sua influência e pragmatismo, vão contribuir para pacificar os excessos e ajudar no suporte ao crescimento do país com suas sugestões e ações, não se omitindo em vir a público quando necessário. Nós, da Cambridge Family Enterprise Group, vamos seguir na nossa missão de suportar esta classe empreendedora e dar nossa contribuição neste momento delicado. Ânimo para todos nós, 2023 começou!