Quando pensamos em família, é natural imaginarmos vínculos fortes, harmonia e confiança implícita entre seus membros. No entanto, ao trabalhar com famílias empresárias, descobrimos que a confiança não é algo automático, como pode parecer à primeira vista.
Frequentemente, percebemos que muitos dos problemas na tomada de decisão – sejam decisões erradas, desalinhadas ou até a falta dela – são frutos da ausência de confiança e da falta de uma base sólida para resolver desentendimentos de forma construtiva, o que coloca em risco o presente e o futuro desses ecossistemas, comprometendo a geração de valor ao longo do tempo.
Harmonia vs. União: O Primeiro Passo para Construir a Confiança
Em nossos projetos com famílias empresárias, sempre destacamos a diferença entre harmonia e união. Harmonia envolve cultivar relações saudáveis, o se dar bem e a integração familiar, ou seja, “nos damos bem e gostamos de estar juntos”. No entanto, vale dizer que, um apego excessivo à harmonia pode dificultar a resolução de conflitos, pois as pessoas podem evitar confrontos necessários para preservar a boa convivência. Paradoxalmente, isso pode prejudicar a confiança, já que questões importantes ficam sem resolução.
A união, por sua vez, é mais profunda e está enraizada no compartilhar um propósito comum. Ela ocorre quando os membros da família têm um alinhamento claro sobre a missão, visão e objetivos da família e da empresa, ou seja, sabem por que querem permanecer juntos, para onde querem ir e o que precisam fazer para chegar lá. A união pode existir mesmo sem plena harmonia, pois é baseada no compromisso com algo maior.
Confiança: A Base para Decisões Eficazes
Se entendermos a confiança como a certeza de que todos os envolvidos têm boas intenções, sentem-se à vontade para se expressar e cumprem com os acordos estabelecidos em conjunto, podemos afirmar que tanto a harmonia quanto a união são fundamentais para a construção e manutenção da confiança. A confiança é o alicerce para a tomada de decisões em conjunto, alinhadas com os objetivos do empreendimento familiar.
A questão é: como construir a confiança necessária para o alinhamento do propósito?
Gostaríamos de destacar três aspectos essenciais para esse processo:
- Fortalecimento dos Laços Familiares
O primeiro passo para construir confiança é fortalecer os laços familiares.
Este processo começa com a geração mais sênior, que tem o papel fundamental de fomentar a união, criando uma base sólida para enfrentar desentendimentos de forma construtiva e para que as próximas gerações possam conviver, construir história e criar intimidade.
Alguns fatores podem ajudar nessa construção:
- Comunicação clara e transparente: as famílias precisam cultivar um ambiente que priorize a boa comunicação, onde todos se sintam à vontade para expressar seus sentimentos, preocupações e desejos;
- Segurança Psicológica: reforçar, através do comportamento, que as opiniões não são apenas aceitas, mas necessárias. Aprender, ensinar, provocar discussões sadias ou mesmo desafiar o status-quo são maneiras de cultivar um ambiente de construção de confiança, despertando o melhor de cada um;
- Respeito e valorização da diversidade: acolher e valorizar as diferenças, conseguindo extrair o melhor da complementariedade;
- Resolução de conflitos: criar mecanismos eficientes de resolver conflitos também são cruciais, pois deixam claro que existem regras que resguardam o risco de estabelecimento de privilégios, garantindo que, mesmo quando surgirem divergências, a confiança não será abalada.
- Código de ética comum: a construção de um código de conduta comum fortalece a confiança.
- Sólida Estrutura de Governança
Uma governança eficaz é fundamental para garantir a confiança nas decisões.
Quando as funções e expectativas estão claramente definidas, a probabilidade de conflitos e mal-entendidos diminui significativamente. Além disso, uma boa governança inclui regras claras para resolução de conflitos e para o processo de tomada de decisão.
- Superação de ciclos de desconfiança herdados da geração anterior
Em algumas circunstâncias há o desejo de uma geração em superar a falta de confiança existente e cultivada nas relações estabelecidas em gerações anteriores. Apesar de não ser uma tarefa simples, existem caminhos para isso que podem ser manejados pela geração que quer superar o ciclo e promover a confiança daqui para frente.
Nesse sentido, alguns pontos precisam ser considerados:
- Construção ativa de novas regras de convívio: estabelecer como desejam trabalhar o tema, tendo a consciência de que existe a oportunidade de conhecer os limites uns dos outros e aprender a desenvolver uma nova relação respeitosa;
- Definir uma visão de futuro: é importante que cada geração possa refletir e definir sua própria visão de futuro;
- Estabelecer a união de propósito: ter clareza sobre o motivo qual decidiremos seguir juntos, remando na mesma direção, daqui para frente;
- Usar mediação profissional, quando necessário.
- Buscar os padrões das gerações anteriores: conhecer a história, os padrões, os riscos, e escolher, conscientemente, aqueles que não serão seguidos, blindando-se para situações futuras.
A boa notícia é que a confiança é tangível e pode ser construída de forma intencional. Quando a confiança é cultivada e fortalecida, ela serve como base para decisões mais acertadas, colaborativas e sustentáveis, tanto para o presente quanto para o futuro da família e da empresa.
Ao priorizar o fortalecimento dos laços familiares, a criação de uma estrutura de governança sólida e a desconstrução de um passado em que a confiança não prevaleceu, as famílias empresárias podem não apenas superar os desafios do presente, mas também garantir um legado duradouro para as futuras gerações.
Na Cambridge Family Enterprise Group ajudamos famílias a superar desafios internos por meio da construção de um propósito comum e governança. Estamos prontos para caminhar ao lado de vocês nessa jornada.