Venho trabalhando há mais de 35 anos com empresas familiares e ao longo desse tempo aprendi a identificar alguns fatores que são fundamentais para o sucesso e a longevidade das famílias empresárias.
Empreendedorismo e a visão das oportunidades são, sem dúvida, fatores cruciais, bem como a habilidade de gerir a organização com eficiência. Mas para além desses pontos relacionados à gestão, quero abordar hoje um aspecto pouco comentado e que é de extrema importância: a liderança.
Bill Ford, que exerce a função de Executive Chairman na Ford Motor Company, foi questionado em uma entrevista recente sobre o que aprendeu com os membros de sua família longeva de executivos.
Para ser um bom líder, você precisa de algumas poucas coisas. Você precisa ter uma base sólida de valores, viver estes valores e deve ser autêntico. Deve admitir seus erros e aprender com eles
Esta resposta traz a essência do papel da liderança nas empresas familiares. Muitas empresas desaparecem não porque o negócio não vai bem, mas pela falta de união dos acionistas. E esta união é construída em cima dos valores da família, que vão sendo edificados a cada geração.
Na Cambridge Family Enterprise Group (CFEG), desenvolvemos uma metodologia que chamamos de Estratégia do Acionista. Neste exercício muito eficaz, discutimos inicialmente os valores da família, o que une seus membros, o que foi aprendido com os fundadores e o que os motiva.
Depois passamos para a fase seguinte, buscando entender aonde querem chegar, o que buscam construir juntos e qual o sonho comum. A partir daí, definimos e quantificamos este sonho em objetivos mensuráveis para estruturar a estratégia futura. Esse exercício de alinhamento é fundamental para criar harmonia entre os sócios, evitando disputas pessoais.
Durante o processo, da mesma forma que precisamos ter na empresa familiar os empreendedores e criadores de valor, necessitamos também do líder, ou líderes, que fazem o papel aglutinador.
Trabalhei por alguns anos em um grande grupo familiar. Na passagem da segunda para a terceira geração, um dos membros tinha muito claramente este papel. Era um líder nato, respeitado por todos, que conduzia as negociações para buscar o entendimento e o consenso. Sua morte prematura abalou muito o grupo.
Lembro que, em sua missa de sétimo dia, um membro da família prestou uma homenagem e mencionou que todos sabiam ele era uma árvore frondosa que acolhia os demais, mas sua partida precoce criou uma clareira imensa que somente naquele momento conseguiram enxergar.
Nossa associada Renata Barbieri Coutinho realizou uma pesquisa com famílias empresárias centenárias no Brasil, complementando um estudo global feito pela CFEG. Não temos no país muitas famílias empresárias que superaram os 100 anos – e que, portanto, já passaram da terceira geração. As poucas que chegaram a este estágio possuem certamente lições a serem ensinadas e a pesquisa visava exatamente colher esses aprendizados.
O que o estudo brasileiro trouxe de novidade foi de que, nas famílias empresárias centenárias brasileiras, houve sempre um líder em cada geração que unia o grupo em torno dos propósitos e objetivos comuns. O e-book com os principais destaques da pesquisa está disponível neste link.
As empresas familiares possuem desafios importantes nas passagens de comando entre gerações e um passo importante neste processo é identificar os membros que possuem esta habilidade. Esta característica, aliada a uma metodologia robusta como a que desenvolvemos, ajuda muito na transição.
Se você tiver interesse em discutir os aspectos relacionados a sucessão ou preparação dos líderes familiares, entre em contato com nossa equipe. Teremos grande satisfação de apoiar esse processo.
JOÃO BOSCO SILVA
Sócio – Cambridge Family Enterprise Group
Fundador da Bridge Business Advisors, que em 2017 se fundiu a Cambridge Family Enterprise Group para atender famílias brasileiras. Foi CEO da Votorantim Metais, em que liderou o processo de internacionalização e crescimento da empresa e participou do processo de transição da segunda para a terceira geração. Anteriormente, foi CEO da Alcan Alumínio do Brasil e trabalhou em Montreal como Diretor de melhoria de desempenho para empresas da Alcan. Fez seu MBA no IMD, na suíça, e formou-se em engenharia metalúrgica pela escola de mineração de Ouro Preto