Durante muitos anos, as famílias empresárias seguiram modelos tradicionais de trabalho. Perenizar o sucesso do negócio significava fazer com que as novas gerações repetissem o que as anteriores haviam feito, de preferência sem grandes mudanças. Entretanto, a realidade profissional mudou tanto nas últimas décadas que um novo desafio surgiu para essas famílias: manter a nova geração interessada em continuar na empresa, mesmo diante de tantas oportunidades que surgem externamente.

Uma breve viagem no tempo

Imagine-se entrando no mercado de trabalho 50 anos atrás. Você provavelmente pensaria em ocupar uma posição em alguma indústria de transformação, começar realizando atividades manuais e repetitivas, se deslocar dia após dia ao escritório e, após muitos anos na mesma companhia, ocupar uma posição de liderança e destaque. Caso sua família fosse dona de uma empresa, seria esperado que você ocupasse a posição do seu pai (e que foi do pai dele, e assim por diante) em um futuro distante. Isso tudo, claro, se você fosse homem; mulheres não contavam com a mesma oportunidade.

Agora imagine-se entrando hoje no mercado de trabalho. Difícil não pensar em algo que não envolva o mundo digital, ferramentas modernas e inteligentes que automatizam o trabalho, a possibilidade de trabalhar onde existir internet e – por que não? – ocupar o primeiro cargo de liderança em poucos anos. Velocidade e flexibilidade são as palavras-chave desta época. Ainda não atingimos um nível de igualdade, mas é possível vislumbrar carreiras de sucesso tanto para homens quanto para mulheres, felizmente. É inegável que os tempos mudaram.

Um olhar sobre as novas gerações das famílias empresárias

Se você perguntar a jovens de 20 anos de idade como imaginam sua carreira no futuro, provavelmente dirão que querem atuar com autonomia e ter um trabalho com propósito. É possível que também apontem como diferencial positivo sua habilidade de comunicação. Para isso, não espere baixa rotatividade nem permanência prolongada em uma mesma área ou empresa.

Segundo ranking da Morning Consult Brand Intelligence, das 10 empresas mais admiradas pela Geração Z, as 4 primeiras são totalmente digitais: YouTube, Google, Netflix e Amazon. Algo bem diferente das gerações anteriores, que cresceram tendo como exemplos GM, Ford, Vale e Petrobras, todas estas indústrias pesadas com forte estrutura hierárquica e mercados bem estabelecidos.

Os nativos digitais são atraídos pela facilidade de empreender e a possibilidade de inovar por onde passam. Esta geração é reconhecida pela quebra de paradigmas. Em tempos de redes sociais, novas ferramentas digitais e explosão de conteúdos gratuitos, as oportunidades de trabalho são diversas. Trabalhar, para eles, foge à ideia de um local fixo, com horários pré-estabelecidos e hierarquias rígidas.

No caso das famílias empresárias, exigir que os jovens herdeiros assumam posições nos negócios tradicionais de suas famílias tem sido um desafio ainda maior. Para atraí-los, a abordagem precisa ser outra. Além das divergências em relação à forma de trabalhar das gerações anteriores, muitas vezes eles optam por modelos de negócio totalmente diferentes dos da empresa familiar, como startups e fundos de venture capital. Atuar em novos empreendimentos com a possibilidade de rápido crescimento e exposição é, muitas vezes, mais atraente do que seguir carreiras tradicionais em setores clássicos como fábricas e usinas.

Em recente entrevista para a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), o professor e fundador da Cambridge Family Enterprise Group (CFEG), Dr. John Davis, apontou para este novo contexto: “As ideias (da nova geração) mudaram sobre o que querem fazer e se querem estar na empresa que os pais se dedicaram a construir. Isso está criando tensões nas famílias, que querem a contribuição, mas têm dificuldade em se tornarem atrativas para a geração mais nova.

Afinal, como engajar as novas gerações?

Nos últimos anos, tenho acompanhado de perto a evolução de muitos jovens de famílias empresárias em suas jornadas profissionais. Seja em projetos na Cambridge Family Enterprise Group (CFEG) ou dando aula na Link School , presencio as novas gerações buscando seu espaço de maneira mais ativa. Sugerem novas ferramentas tecnológicas, participam de ecossistemas de inovação, aproximam-se de novos negócios disruptivos em seu setor, trazem à mesa oportunidades de investimento fora do óbvio e, talvez o traço mais marcante deles, fazem perguntas que muitas vezes até os mais experientes não saberiam responder. Para eles, nada é garantido, experimentar é necessário e errar faz parte do jogo.

O resultado dessa nova geração nos negócios da família? As áreas de P&D ganharam maior relevância, investimentos e aquisições de startups passaram a ser considerados e avaliados, o mercado viu collabs surgirem, o marketing abraçou de vez os canais digitais e as famosas squads agora permeiam estruturas organizacionais de empresas até então rígidas. Os benefícios não param por aí, provando que as novas gerações são um motor benéfico para as empresas familiares.

Escrevendo os próximos capítulos

Envolver as novas gerações nos negócios parece ser um desafio que veio para ficar para as famílias empresárias. Felizmente, existem maneiras de superá-lo e dar continuidade ao legado de tantas famílias e suas histórias de sucesso.

Nossa equipe de consultores da Cambridge Family Enterprise Group (CFEG) tem atuado junto a famílias empresárias para incluir as novas gerações nos negócios. Buscamos sempre entender os anseios dos mais jovens em relação aos negócios e nosso trabalho com as famílias tem acontecido cada vez mais cedo, envolvendo adolescentes e, em alguns casos, até crianças. O fundamental é que possam escolher se querem participar ou não dos negócios, entendendo que existem formas de contribuir sem atuar diretamente nas empresas, e que cada um se sinta realizado em sua carreira a partir dessas decisões.

Sua família ou alguém que você conhece está enfrentando alguns desses dilemas na gestão dos negócios? Venha trocar ideia com nosso time. Estamos interessados em buscar os melhores caminhos para cada situação e tipo de negócio.

 

 

Felipe Martin
Consultor Sênior – Cambridge Family Enterprise Group

 

Atua com planejamento estratégico e governança para famílias empresárias. Conduziu planos e orientações estratégicas, assessorou processos de fusão e aquisição, implementou sistemas de governança familiar e corporativa e desenvolveu estratégias de investimento em inovação. Possui passagens por consultorias de negócio (Dextron, Beta-i), startups (Rocket Internet, Evino) e varejo para a saúde. Atuou como perito judicial contábil junto ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo nas áreas de Administração e Contabilidade. É professor da disciplina de estratégia para a graduação na Link School of Business. Graduado em Administração de Empresas pela FEA USP, mestrando e pós-graduado em Finanças pela FIA / USP, formado como Conselheiro de Administração e como Secretário de Governança pelo IBGC e com especializações em finanças pelo INSPER.