Decidir sobre a carreira a ser seguida é um grande desafio para a maioria dos jovens. É muito raro você conversar com alguém que aos 16 ou 17 anos já esteja totalmente ciente de suas escolhas, certos da faculdade que querem fazer e da carreira a ser trilhada no futuro. Os motivos são diversos: é cedo mesmo, eles estão em plena fase de autoconhecimento e desenvolvimento; falta de maturidade, falta de informação ou de visão sobre o que aquela escolha vai significar na prática.

Quando o recorte específico são membros de famílias empresárias então, o cenário pode ser ainda mais desafiador considerando as expectativas de outras gerações e a própria vontade de perpetuar um legado que significa muito para estes jovens. Por isso é tão importante o trabalho de orientação que fazemos com eles na Cambridge Family Enterprise Group (CFEG).

Penso que é essencial fazê-los perceber que existe sempre uma escolha individual a ser feita, em conjunto com a responsabilidade perante à família. Nosso desafio é orientá-los a pensar neste compromisso que eles têm com a família para a perenidade do legado sem que tenham de renunciar a sua vocação e os seus interesses pessoais. Como diz John Davis, fundador da CFEG, “bons acionistas são pessoas realizadas”. E a realização não é consequência da imposição, mas da liberdade de escolha.

Ampliar a visão do jovem sobre suas possibilidades na família empresária é um ótimo começo, muitas vezes eles não conhecem as diferentes formas de contribuição dentro de um empreendimento familiar. Há uma amplitude de papéis e responsabilidades no sistema familiar que abrange desde o executivo dos negócios, líderes de impacto social até acionistas ativos na governança.  Do outro lado, também há outro importante trabalho a ser feito com os integrantes das gerações anteriores: fazê-los enxergar como a diversidade de talentos e formações pode ser positiva para o futuro do empreendimento familiar.

No trabalho de desenvolvimento destes jovens, gosto de começar dando alguns passos atrás, tirando certos pré-julgamentos e verdades absolutas, revisitando e reanalisando estereótipos e fantasias que têm sobre determinadas carreiras. Em paralelo, desenvolvemos um forte trabalho de autoconhecimento a fim de mapear habilidades e valores pessoais, oferecendo informações, promovendo conversas com profissionais de mercado para entenderem, na prática, como funcionam cada uma das áreas de possível interesse.

O objetivo é deixá-los mais fortalecidos e seguros para bancar as escolhas conhecendo seus interesses e suas fortalezas. Dessa forma, evitamos que aceitem imposições ou influências externas, que surgem a partir de expectativas, veladas ou explícitas, visões estereotipadas de futuras carreiras e pouco conhecimento das oportunidades. Além disso, um mapeamento sobre o conhecimento deste futuro acionista sobre os atuais empreendimentos da família e seu sistema de governança é de suma relevância neste momento de vida dos jovens, já que precisarão fazer um trabalho de aproximação dos negócios da família – independente se seguirão carreira dentro ou fora.

De fato, um indivíduo fortalecido, fortalece o grupo. Já tive a oportunidade de acompanhar o encontro de um grupo de primos depois que todos tinham passado pelo processo de desenvolvimento individual. Estavam muito mais maduros no coletivo, entendendo como a pluralidade de talentos os engrandecia como grupo de futuros acionistas.

Nesta visão ampliada que oferecemos aos jovens em fase de tomada de decisão, apresentamos as possibilidades e os impactos de cada caminho. Aqueles que almejam se tornar executivos da empresa familiar precisam saber que vão ser mais visados e precisarão provar seu valor constantemente, terão que liderar não apenas os negócios, mas também a família. Para eles, minha sugestão é que, antes de iniciar a carreira dentro da estrutura familiar, adquiram experiência de mercado para terem vivências “lá fora”, busquem formações adicionais e expandam sua rede de relacionamentos.

Aqueles que optarem por uma carreira paralela precisam estar cientes de que terão dois papéis, porque o de acionista não pode ser delegado. Mais do que isso: terão de ser acionistas bem-informados e conscientes, que apoiem e tragam valor de outras formas.  Mas, por outro lado, justamente por não estarem no dia a dia, podem oferecer uma visão complementar, apontar outros ângulos e contribuir para a união da família.

Independente do caminho a ser seguido, é importante dar visibilidade a estes jovens que há possibilidades e oportunidades para se desenvolverem. E que é preciso de muita responsabilidade e dedicação para assumir liderança da família ou dos negócios. Nós os apoiamos nesta fase crítica da vida.