Iniciamos o ano de 2025 com notícias que evidenciam momentos turbulentos. Os primeiros movimentos de Donald Trump ao reassumir a presidência dos EUA trouxeram tensões e não incentivaram as transformações desejadas para um futuro mais sustentável.
Mudanças repentinas em temas como inteligência artificial, acompanhadas de mercados voláteis — como o registrado após o surpreendente lançamento da plataforma chinesa de IA “DeepSeek” —, além de questões envolvendo proteção de dados e propriedade intelectual, geram incertezas e inseguranças.
No cenário global, o Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, Suíça, destacou a urgência de cooperação para o desenvolvimento sustentável. Com o tema “Colaboração para a Era Inteligente”, o evento trouxe reflexões sobre como alinhar as transformações esperadas com as novas tendências e com as demandas por práticas ESG, tão cobradas por investidores e pela sociedade.
ESG em Debate: Desafios e Perspectivas
A polemização “tudo é ESG” versus “nada é ESG” reflete um movimento pendular que ora enfatiza, ora politiza o tema. Se, por um lado, os críticos ignoram os riscos climáticos e desconsideram a necessidade de precificar impactos de longo prazo, por outro, os entusiastas podem sobrevalorizar a adesão vinculada a seus princípios em detrimento da lógica econômica de curto prazo. A grande questão é: como o mercado pode trabalhar a favor da sustentabilidade?
Famílias empresárias, com sua visão de longo prazo, têm a capacidade de equilibrar essas demandas. Conforme apontado por Julieda Puig, da RESET, “em vez de colocar o pensamento de sustentabilidade no negócio, deve-se colocar o pensamento de negócio na sustentabilidade”. Essa abordagem supera a tensão entre lucratividade e sustentabilidade, transformando ESG em um vetor de competitividade. Este será o mindset das novas gerações, sucessores nas famílias empresárias.
Na Europa, famílias empresárias já incorporam o ESG não apenas na gestão de seus negócios, mas também na migração de seus portfólios de investimentos. Cerca de 60% do capital investido no continente (aproximadamente 6 trilhões de Euros) está relacionado à sustentabilidade.
Quando converso com clientes da Cambridge Family Enterprise Group no Brasil, apresento três trilhas de impacto positivo: filantropia familiar, ESG na empresa e investimentos responsáveis. Cada família pode projetar seu propósito social e definir sua trilha de impacto com base em seus valores. Conforme nosso mestre John Davis, fundador da CFEG costuma perguntar: “Como criar valor através dos seus valores?”
Governança como Alicerce
Famílias empresárias enfrentam, além dos desafios do negócio, os relacionados à propriedade e à dinâmica familiar. Por isso, uma governança bem estabelecida é fundamental para:
- Garantir foco nos melhores resultados operacionais.
- Assegurar retorno desejado aos investidores, equilibrando risco, retorno e impacto.
- Promover união familiar por meio de papéis e responsabilidades claras.
Oportunidades e o Papel das Famílias Empresárias
Apesar das adversidades, é essencial que famílias empresárias assumam o protagonismo na promoção de transformações duradouras. Michael Bloomberg é um exemplo de liderança responsável, inspirando outros a avançarem em uma jornada que não pode mais ser postergada.
Governos também desempenham um papel crucial. Países como Reino Unido, Brasil e diversas nações asiáticas já adotam medidas como regulamentações sobre custo de carbono e legislações anti-desmatamento. O mercado de capitais e organizações filantrópicas também ampliam o acesso a investimentos de impacto em áreas como agricultura sustentável, gestão de resíduos, uso da água e economia circular, utilizando instrumentos de dívida, equity e blended finance.
As famílias empresárias possuem um papel relevante na construção de uma economia mais resiliente e consciente. Mesmo diante de tensões globais e desafios locais, o compromisso com a sustentabilidade, a governança e o impacto positivo pode ser o alicerce para envolver a nova geração de sucessores, perpetuar legados e construir um futuro melhor.
Beatriz Johannpeter
Consultora Associada– Cambridge Family Enterprise Group
Membro da quinta geração da Família Gerdau Johannpeter e integrante do Conselho Familiar, é uma experiente mentora em Investimento Social, Impacto e Governança. Sua trajetória reúne a pioneira experiência de governança da família Gerdau Johannpeter assim como a atuação social corporativa no Instituto Gerdau , responsável pelo Investimento Social Privado da empresa e da família, consolidando sua expertise em gestão de projetos de impacto. Presidiu o GIFE (2014-2018) e integrou comitês e conselhos como: o Comitê de Empresas de Controle Familiar do IBGC, a Fundação Roberto Marinho e Todos pela Educação. Atualmente é Diretora fundadora do Instituto Helda Gerdau, dedica-se a promover iniciativas de transformação social, contribui com os Conselhos da Aliança pelo Impacto, ICE, RegeneraRS e Fundação Iberê Camargo. Formada em Arquitetura e Urbanismo, complementou sua formação com educação executiva em Corporate Social Responsibility na Harvard Business School.